05 junho, 2023

GOYESCA

Acabámos de descobrir que vivemos na era da pós-verdade. Parece que passamos a vida a fazer grandes descobertas e a banharmo-nos pela primeira vez nas águas de um rio que nunca é o mesmo. Ou não será antes uma forma de darmos nomes diferentes às coisas? Em que era se vivia quando alegremente se dizia que era preferível estar errado com Sartre do que ter razão com Aron? Ou quando milhares de comunistas tudo faziam para acreditar nas verdades do Partido a respeito do estalinismo, maoísmo, pol-potismo, brejnevismo, ceausescismo, hoshismo, jaruselkismo ou honeckerismo? Ou só é pós-verdade porque agora se trata de Trump ou Bolsonaro? Nietzsche, na Gaia Ciência, estamos a falar do século XIX, lembra que a consciência é a evolução última e mais tardia da vida orgânica, sendo por isso frágil e incompleta, excelente incubadora de falsos juízos, cuja base não é a verdade, mas o que se deseja acreditar. O pior cego não é o que não quer ver. Este será mesmo o melhor de todos ao conseguir, com grande sucesso, o seu mais anelante propósito, que é não ver. Deixando assim a sua consciência bem encostadinha à almofada para um sono bem repousado. E quem não se pela por um sono bem repousado?