23 maio, 2023

DELAUNAY



Estes dois quadros repousam numa parede a pouco mais de dois quilómetros do sítio onde repousa a senhora Josephine Renart do post anterior. E tal como a senhora Renart repousa ao lado do senhor Renart, também o quadro da senhora Delaunay repousa ao lado do quadro do senhor Delaunay. Como se pode ver nas etiquetas, Sonia e Robert partilham o apelido, como Jean e Josephine partilham o seu. Mas partilharão de igual maneira? No caso de Jean e Josephine, sabemos que se trata de um vulgar procedimento jurídico que fez com que, no dia do seu casamento, Josephine sobrepusesse um novo apelido ao que lhe fora atribuído no Registo Civil após o nascimento. Mas o que partilhariam eles mais para além do apelido? Não sabemos, nem temos como saber. Mas temos como saber a respeito de Sonia, que começou por ser Stern no Registo Civil, e Robert. Basta olhar para estes dois quadros. Os quais, numa prova cega, não saberíamos identificar como sendo de um ou do outro. Neste sentido, Delaunay é muito mais do que um apelido e, no caso de Sonia, tardiamente adquirido no Registo Civil. Há um Delaunay em Sonia que resulta de uma convenção social e, neste sentido, não passa apenas de um nome, como, de resto, também aconteceria com Robert se o seu pai tivesse outro apelido. Visto desta maneira, um nome vazio e vindo do exterior, como acontece com todos os nomes, nomeadamente o Renart que uniu Jean et Josephine. Mas há um outro Delaunay, para além do que Robert recebeu do pai e que depois transmitiu a Sonia no dia do casamento. Um Delauney onde ambos mergulharam para se unirem, e assim partilharem não apenas um nome, mas um mesmo mundo, um mesmo padrão de gosto e um espelho no qual cada um vê o seu espírito através do espírito do outro. Oxalá, ainda que sem pintura, Jean e Josephine tivessem conseguido o mesmo.