A mulher dá milho às galinhas. Fossem estas dotadas de um córtex mais generoso e talvez sentissem gratidão pela maternal acção da mulher que, como deusa protectora e benfazeja, lhes dá de mão beijada o milho seu de cada dia. Poderíamos cair na tentação de uma analogia com a nossa vida, que também nos dá tanto para depois nos sacrificar. Todavia, o sacrifício da galinha, epílogo da sua existência, faz bem mais sentido do que o nosso dentro de uma ordem, ou desordem, que transcende a nossa capacidade de compreensão e domínio. Enquanto a morte da galinha a leva até ao prato da mulher que a engordou, a nossa, por muito basta que tenha sido a vida, engordando-nos com experiência, prazer ou felicidade, não serve absolutamente para nada. Apenas para confirmar que não passa de uma breve interrupção entre dois nadas.