O fascínio novecentista pelo orientalismo, levou em 1862, Madame Desoye a abrir na rue de Rivoli, circundada pelas Tulherias, a Place Vendôme e o Louvre, La Jonque Chinoise, loja de artigos orientais, facultando sobretudo gravuras e porcelanas orientais aos parisienses, entre os quais Manet, Degas, Sarah Bernardt ou Whistler, que não era parisiense mas lá viveu. Anos antes, em 1856, já Mr. J.G. Houssaye tinha aberto, na rua Vivienne, entre o jardim du Palais Royal e a Ópera, a sua La Porte Chinoise, esta mais virada para o comércio de chás. Felizmente, este fascínio pelo que vem do Oriente mantém-se bem vivo ainda hoje, na minha terra, que mostra assim não querer perder o comboio do cosmopolitismo. Evidência que não carece de especiais argumentos bairristas: basta o facto de ser chinesa a maior loja da minha terra, ali entre um triângulo formado por uma metalúrgica, a casa das sandes de leitão e o Pingo Doce e um outro formado pelo McDonald´s, Burger King e o mais recente KFC que, como posso aferir pelas minhas caminhadas durante as quais digiro o que resta do meu frugal jantar, acoroçoa a cabeça, coração e estômago dos meus conterrâneos. Glamour, assim se chama a nossa loja chinesa. Nome mais elegante e esteticamente depurado seria difícil, só mesmo da diamantina cabeça de um Proust ou de um Huysmans. Mas atendendo à babilónica dimensão da loja e em homenagem à vetusta e charmosa loja parisiense, eu chamar-lhe-ia o Portão Chinês.