Calhou encontrar na rua uma rapariga do meu tempo, uma daquelas pessoas que se vêem de dez em dez anos ou mais, por virem à terra durante esta época natalícia. O grande clássico nestes encontros, após despachar as secções do trabalho, filhos, ou netos se houver, é a maléfica passagem do tempo sobre as nossas pessoas, concluindo ela com um suspiro e o amarelo sorriso da derrota que a velhice só traz chatices. Eu, com autoridade filosófica, neguei, lembrando uma qualidade trazida pela idade: a sabedoria. Os olhos dela abriram e o sorriso amarelo deu lugar a um sorriso mais animado: «-Sim, é isso, a sabedoria!». O que eu não quis explicar é o que traz essa sabedoria. Se fui eu a acender a luz ao fundo do túnel, também não iria ser eu a apagá-la.