26 novembro, 2025

PENSAMENTO MÁGICO

«Christoph Kolumbus era o barbeiro de Bloomfield. Fazia parte da bagagem de Bloomfield e aparecia sempre, no final, como reforço. Era uma pessoa conversadora e de nacionalidade alemã. O seu pai era admirador do grande Colombo e, por isso, batizou o filho com o nome do navegador. Mas o filho, com o grande nome de um homem célebre, era barbeiro.»

Quisesse Alonso Quijano ser apenas ele próprio em vez de D. Quixote e passaria despercebido pelo mundo. Ser pobre e vulgar não é risível. O que torna Quixote risível é a ilusão ou delírio sobre a sua identidade. O mesmo efeito cómico consegue Roth numa única linha. O que torna esta passagem letal não é o pai atribuir ao filho o nome Colombo. É ele ser barbeiro e parte da bagagem de um homem importante. A moral da história é fácil: ridicularizar o pensamento mágico. Neste caso, envolvendo a magia do nome. Mudando de cenário, podemos ainda ver o pensamento mágico como um imaginário elevador identitário. Ainda com o nome como recurso, quem diz Colombo diz Salvador ou Benedita para se transformarem num verdadeiro "Salvador" e numa verdadeira "Benedita". Mas também ir, no Verão, às praias dos ricos, para viver a ilusão de ser rico. Ou alguém que, não sendo rico, consegue ter dinheiro para frequentar os restaurantes dos ricos, comprar as marcas de roupa dos ricos, ou mesmo os carros dos ricos. Ou um jovem urbano acreditar que é artista só porque através das roupas, cabelo e óculos compõe artisticamente um ar de artista, tal como em tempos se acreditava que bastaria entrar num café com um livro debaixo do braço para se transformar num intelectual. Quixotes não faltam. E só não são risíveis, estando, ao contrário do original, protegidos dos olhares alheios, porque num mundo de Quixotes é tão cego o que vê como o que é visto.