«Em toda a minha vida nunca vira um chapéu de feltro tão bonito, era uma maravilha, a cor clara, suave e terna do chapéu não se podia definir bem e, no meio, as dobras tinham sido cuidadosamente feitas. Se eu algum dia usasse este chapéu, sentiria repugnância em cumprimentar alguém, por isso perdoo a Alexander o facto de ele não cumprimentar as pessoas, só põe um dedo no chapéu, o dedo indicador, e faz continência como os militares quando correspondem aos cumprimentos de um cozinheiro militar.» Joseph Roth, Hotel Savoy
E quem diz o chapéu diz a cor da pele, a nacionalidade, o apelido, a profissão. Tudo chapéus que nos empossam de um estatuto que nos eleva tão acima do comum dos mortais que o corpo acaba por ignorá-los, obrigando apenas ao movimento de um dedo blasé. O mundo, na verdade, é um quartel, com os seus códigos bem estabelecidos e onde a farda anula o simples cidadão que, moral e humanamente, é apenas mais um, mas que dentro da sua consciência, e nem precisa de ser nas suas profundezas, consegue ser menos um.