26 julho, 2024

LINHAS VERMELHAS

Nunca, nas aulas, assumo posições políticas e ideológicas. Nas aulas sobre Rawls (problema da justiça distributiva) oiço alunos a dizerem as maiores barbaridades, sem vacilar. Explico o comunismo, a social-democracia, o liberalismo, o anarco-capitalismo, a diferença entre esquerda e direita, sem dar a mais pálida ideia do que penso sobre isso. Mas um professor não é de ferro e há um partido e um político português, ou um candidato a presidente dos E.U.A que, sem nomear explicitamente, mas sabendo de antemão que os alunos percebem, sinto o dever de desmontar. Porque aqui não se trata de fazer política, de defender ou criticar partidos e políticos, de fazer a apologia de uma ideologia. Enquanto professor, no seu sentido mais lato, e enquanto professor de Filosofia, estou incumbido de transmitir valores básicos da democracia, da cidadania (palavra que detesto, mas enfim) da decência e, não menos importante, de cultivar a inteligência e o espírito argumentativo, prática completamente incompatível com o culto da mais soez boçalidade e estimulação da parte mais primitiva do nosso cérebro, a qual partilhamos há milhões de anos com os répteis. Somos filhos de Atenas e Jerusalém, e não é bonito ver alguns de nós renitentes em sair da caverna.