15 junho, 2024

A SAÍDA

A recente morte de Françoise Hardy (também tinha coisas para dizer sobre ela), que há anos reclamava perante o Estado francês o direito a uma morte clinicamente assistida, levantou de novo o problema da eutanásia. Não percebo como, em Itália, em virtude da sua língua, a eutanásia também ainda não foi legalizada, considerando que "Uscita" é "Saída", palavra que está por todo o lado (supermercados, lojas, estações), e sendo "Matar" "Uccidere". Palavras que, sendo graficamente parecidas, foneticamente ainda ficam mais devido à semelhança do som X. Em Português, esta última surge com uma carga fonética e semântica tremenda. Basta pensar em abrir o Correio da Manhã e dar com "Homem mata mulher em Oliveira de Azeméis com várias facadas", ou em "Matadouro Municipal" para se ficar horrorizado. Já agora, não percebo como o politicamente correcto acabou com os cegos, os contínuos e os velhos, mas ainda não o fez com "Matadouro". Já em Italiano, basta pensar nas duas palavras para ficar óbvia a sua perfeita conjugação no momento em que o médico se aproxima do doente para o ajudar a sair do seu sofrimento. "Uccide" assim com a mesma naturalidade com que o segurança de um centro comercial ajuda uma pessoa com um repentino ataque de claustrofobia a encontrar a "Uscita", fazendo assim coincidir a possibilidade de, finalmente, respirar fundo ou deixar de respirar.