07 novembro, 2023

TRANSTEMPORALIDADE

Há insectos cujo ciclo de vida é de 24 ou 48 horas. Já as tartarugas gigantes das ilhas Galápagos vivem mais de 150 anos e os elefantes 100 anos. Nós, em média, morremos entre os 70 e 80 anos. O que significa viver 70 ou 80 anos? É muito ou pouco tempo? Não vivemos tanto como a tartaruga gigante ou o elefante mas, comparando com as vidas da maioria dos seres vivos, é uma vida longa. Talvez isto possa significar que não podemos viver a nossa vida como um insecto sempre a esvoaçar, ou como um rato que, nos seus dois anos de vida, não pode estar muito tempo parado. Mas um ser vivo que vive 70 ou 80 anos, não precisa, nem pode, estar sempre em movimento. Daí devermos tomar como exemplo a tartaruga ou o elefante, embora também sem exagerar pois não vivemos tanto como eles. Uma vida humana, pela sua duração, precisa de pausas, de momentos mortos, de silêncios. A vida humana, com os seus 70 ou 80 anos, não é uma vida de acção, mas uma vida com acções, coisa diferente de viver como um frenético insecto cuja vida rapidamente se esvai. Vivê-la assim fica assim como imaginar a cabeça de uma tartaruga num corpo de insecto. Há pessoas transsexuais que sentem que nasceram com o sexo errado. Neste caso, trata-se de transtemporalidade: a cabeça viver sob o ritmo imposto por um relógio e calendário que nada tem que ver com o que a natureza lhe preparou, mesmo quando a esperança de vida era bem menor que a actual.