27 julho, 2023

O NOME DA ROSA E DE TODAS AS OUTRAS

Londres, Kenwood House, 2008

Porto, Fundação de Serralves, 2023

Descobri há tempos o agapanto que, a par das hortênsias e jarros, logo passou a ser uma das minhas flores preferidas. Desde então passei a ver o que não via, ou que ainda não descobrira por estarem cobertos com a ignorância do seu nome: agapantos por toda a parte, incluindo perto de casa e pelos quais passo todos os dias. Ainda agora andei a rever umas fotografias que tirei há quinze anos e em duas aparecem agapantos que me impressionaram pelo seu belo efeito num belo jardim, mas sem os ver como agora vejo quando olho para eles. Daí um nome, apesar de ser uma simples forma sem conteúdo físico ou sensível, ser bastante mais do que uma etiqueta que nomeia um objecto. É uma etiqueta que nos faz apropriar da coisa por ela nomeada, assim como saber de cor um poema. Sabê-lo de cor pode não significar nada, assim como se pode decorar o Teorema de Pitágoras sem o perceber. Mas amar um poema e, ao mesmo tempo, sabê-lo de cor, é fazer entrar o poema dentro de nós, ou, como dizem franceses e ingleses, fazê-lo entrar no coração. Passa-se o mesmo com a visão. Se o nome precisa da sensibilidade para não ficar reduzido a uma simples forma vazia, é essa mesma forma vazia que permite à sensibilidade evitar a cegueira diante das coisas. Entre os agapantos da Kenwood House e os agapantos de Serralves, aconteceu o mesmo que a Ulisses, cujo pai lhe ensinou o nome das árvores, no meu caso, ter aprendido o nome do agapanto. Daí os agapantos de Serralves já não serem os mesmos da Kenwood House pois a pessoa que viu os segundos já não é a mesma que viu os primeiros.