10 junho, 2023

A ÉPICA E A LÍRICA

 

Esta capa tem quase um mês e deve-se ao Manchester City ter eliminado o Real Madrid com o contributo de um português, facto que só por si justifica o nosso pátrio orgulho. Mas há ainda a cereja em cima do bolo: na final, em Istambul, entre uma equipa inglesa e uma equipa italiana, esse mesmo português entrar em campo, não no dia de Inglaterra, não no dia de Itália, não no dia da Turquia, também não no dia da Polónia, que é de onde vem o árbitro, mas dia de Portugal. Eu poderia ver nesta capa um manifesto ainda marcado pelo Ultimatum Inglês. Humilharam-nos? Pois é, mas agora precisaram de um português para ajudar a eliminar o Real Madrid e irão tê-lo a jogar para dar cabo dos italianos no dia de Camões. E isto, sabendo nós da importância de Camões na revolta face ao Ultimatum, em cuja estátua estava prevista a deposição de uma coroa de flores. Mas não vou por aí, agora que somos quase tanto adeptos do Manchester City ou do Manchester United, como do Benfica ou do Sporting, sobretudo desde que lá joga quem fala a mesma língua do vate. O que vejo aqui, pensando no que fomos quando levados por heróis epicamente cantados pelo poeta, que fizeram da imensa Terra uma esfera dominada, é um patriótico lirismo que canta o domínio do esférico por um médio lusitano. Hoje, dia 10 de Junho, em Istambul, muito mais do que uma final, vai estar em jogo a honra e o orgulho de um povo nos pés de um Silva. E estamos reduzidos a isto.