Almoço terminado, e estando ali à espera que os outros comensais regressem da casa de banho, resolvo puxar da máquina para tentar a minha sorte com os transeuntes que abrandam para estudar o menu ou espreitar o interior. Foi um minuto ou dois, mas o suficiente para juntar três origens étnicas. Pode parecer matematicamente extraordinário, ou apenas extraordinário para quem vinha de uma terrinha de província de um país ainda sem os imigrantes que viriam a ter algum peso na fisionomia social do país. Sendo naquela cidade, sabe-se que nada tem de extraordinário.
A mesma terrinha de província que, em 2022, acaba de juntar à volta de uma mesa natalícia, entre portugueses, uma brasileira, um italiano, uma polaca e um peruano. Mas também um rapaz, com dois anos e meio, que vai gatinhando em quatro línguas: o Português do pai, o Polaco da mãe e da avó que de vez em quando voa do sul da Polónia até Copenhaga para fazer de babysitter, o Inglês que os pais falam entre si, e o Dinamarquês da professora e amigos do infantário. Fica assim difícil saber em que selecção irá jogar no campeonato do mundo de 2042. Como naquele dia de 2008, pode parecer matematicamente extraordinário ou apenas extraordinário. Mas irá deixar de o ser, excepto para quem cuja cabeça teima em não sair de uma terrinha de província apesar de viver num mundo cada vez mais transformado numa grande cidade como Londres.